Inteligência artificial: mais do que um mero fenómeno tecnológico

A inteligência artificial (IA) existe há vários anos e já foi amplamente adotada em todas as áreas de negócio e da vida quotidiana. Contudo, disparou recentemente na consciência pública, em grande parte devido ao aparecimento bombástico do ChatGPT. Para os selecionadores de ações ativos, sempre que surge um tema popular, é necessário determinar se é algo verdadeiramente revolucionário ou se não passa de mais uma tendência excessivamente publicitada.

O atual furor em volta da IA foi desencadeado pelo lançamento do ChatGPT em finais de 2022. Em poucos meses, milhões de utilizadores experimentaram-no e a especulação sobre o seu impacto na economia real afetou significativamente o preço das ações de várias empresas cotadas em bolsa.

O ChatGPT é um exemplo de Inteligência Artificial Generativa (GenAI), que se encontra uns passos à frente da IA tradicional. De um modo mais geral, a GenAI tem uma vasta gama de aplicações, desde programas de simulação de conversa (chatbots) e assistentes virtuais até à criação de conteúdos e tradução. As máquinas têm agora a capacidade de ir além de respostas simples baseadas em regras ou modelos, produzindo resultados novos, gerados de forma independente e contextualmente adequados (texto, imagens, discurso, vídeo).

Outro tema de discussão popular é o impacto da IA em várias profissões. Embora seja provável que a IA venha a afetar inúmeros empregos tal como hoje os conhecemos, com alguns a deixarem de existir, há várias profissões que surgiram ou evoluíram devido à IA, como o cientista de dados ou o operador de drones. Nesta fase, ainda não é claro o efeito líquido desta evolução tecnológica nas taxas de emprego.

Por agora e para muitos setores, o fundamental é aprender a interagir com a GenAI para tirar partido dos seus resultados. As aplicações da GenAI são diversas e existem muitos resultados possíveis, incluindo código, imagens, áudio, vídeo e design. Por exemplo, o ChatGPT e o Bard da Google são chatbots, enquanto o Dall-E da OpenAI cria imagem a partir de texto. Embora a criatividade seja sem dúvida libertada, há implicações regulamentares a ter em consideração. Um bom exemplo é a controvérsia respeitante aos direitos de autor de música gerada com recurso a IA, que já reuniu apoiantes e opositores.

De acordo com a Accenture¹, prevê-se que a GenAI – na forma de Grandes Modelos de Linguagem (LLM - Large Language Models) – afete até 40% das horas de trabalho em todos os setores e que tenha o maior impacto de automatização na banca e de aumento nos recursos naturais.

Contudo, isto é apenas o início de uma evolução tecnológica.

A inovação está a acontecer rapidamente e, a longo prazo, chegará a todos os setores. Uma vez que não existirão isenções, irão prosperar as indústrias mais adaptáveis.

É improvável que a adoção siga um percurso linear, mas os vencedores pioneiros são as empresas ligadas às tecnologias. A Microsoft e a Nvidia são exemplos óbvios, bem como os fabricantes de semicondutores. Mas outros setores beneficiarão também desta tendência, como a publicidade online ou os serviços de tradução, as empresas de cibersegurança e os fornecedores de dados. Os que envidarem esforços para dar um salto em frente na curva da adoção sairão beneficiados.

Acreditamos que a IA é um fator disruptivo para um grande número de empresas, em vários setores. Contudo, tal como sucede com várias grandes tendências, a chave é separar o ruído das oportunidades genuínas e gerir o entusiasmo.

Como selecionadores de ações, o nosso papel é prestar atenção aos desenvolvimentos nos mercados, regiões e setores, para estarmos na dianteira e detetarmos as grandes oportunidades à medida que estas surgem.