Edouard Carmignac escreve sobre questões económicas, políticas e sociais actuais em cada trimestre.
Exmo(a). Senhor(a),
Na minha carta anterior, referi que a recessão tão esperada desde o início do ano, tal como Godot, estava longe de ser certa. Três meses mais tarde, embora a acumulação de sinais de desaceleração do crescimento mundial seja inegável, esta ainda parece estar longe de se concretizar.
Perante uma subida significativa das taxas de juro, a resiliência da atividade em ambos os lados do Atlântico deve-se à generosidade orçamental sem precedentes destinada a compensar as famílias e as empresas pelas perdas de rendimentos provocadas pela ameaça da Covid. Três anos depois do surto deste vírus, o não regresso ao rigor orçamental continuou a aumentar os défices públicos, apoiando simultaneamente as nossas economias.
Como tal, as políticas monetárias restritivas revelaram-se pouco eficazes, uma vez que as tensões, nomeadamente no mercado de trabalho, incentivam um consumo sólido, estimulado pelo aumento dos salários e por taxas de desemprego modestas. No entanto, o seu impacto na capacidade de os Estados continuarem a financiar défices crescentes a taxas de juro moderadas é uma questão totalmente diferente. As poupanças das famílias continuam a ser atraídas pelas perspetivas de valorização oferecidas pelos mercados de ações, enquanto os grandes mutuantes tradicionais (China e Japão) estão progressivamente a afastar-se das obrigações americanas e europeias.
O aumento brutal das taxas de juro de longo prazo ao longo deste trimestre (de 3,80% para 4,80% nos títulos de dívida pública americanos a 10 anos e de 2,40% para 2,90% no Bund alemão) deu a muitos investidores a esperança de uma estabilização, ou até mesmo de uma reversão. Embora com algum atraso, nostra culpa, duvidamos. As necessidades de financiamento público são dificilmente reduzíveis e as poupanças disponíveis para lhes fazer face continuarão a ser insuficientes enquanto a atividade global oferecer alternativas de investimento atrativas.
Neste contexto, quais são as perspetivas dos mercados? Estamos convencidos de que os Bancos Centrais não estarão interessados em desempenhar o papel de aprendiz de feiticeiro, comprometendo ainda mais o financiamento das despesas públicas. Assim, e ao contrário do consenso existente, consideramos improvável a prossecução da subida das taxas a curto prazo nos Estados Unidos e na Europa. Nestas condições, a luta contra a inflação tornar-se-á menos prioritária, o que sugere uma descida considerável das taxas reais com maturidades curtas (inferiores a 5 anos). A evolução das taxas de juro a longo prazo permanecerá incerta e até mesmo problemática para os Estados laxistas. O apoio à atividade proporcionado pela perspetiva de taxas reais a curto prazo moderadas sustentará os mercados de crédito. A nível de ações, embora estas também devam continuar a ser apoiadas pelo afastamento do risco de recessão, a sua avaliação será afetada por taxas nominais elevadas e pelo abrandamento resultante da inevitável contração dos défices públicos. Mais do que nunca, as empresas pouco endividadas e com boa visibilidade devem ser privilegiadas.
E, tal como Godot, a recessão pode ainda tardar...
Melhores cumprimentos,
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