Edouard Carmignac escreve sobre questões económicas, políticas e sociais actuais em cada trimestre.
Exmo(a). Senhor(a),
Os economistas de todos os tipos, tais como Vladimir e Estragon, estão à espera da chegada de uma recessão desde o início do ano. No entanto, tal como Godot, a recessão tarda em chegar. Provavelmente, a expectativa provocada por esta ausência não nos levará a refletir sobre o sentido da vida, mas conduzir-nos-á, pelo menos, a questionar as causas atípicas do crescimento económico pós-Covid.
A cessação abrupta da atividade que acompanhou a descoberta da rápida transmissibilidade do SARS-Cov-2 suscitou medidas corretivas através de uma grande generosidade orçamental com vista a compensar as famílias pelas perdas de rendimentos. Assim, os Estados Unidos acumularam uma poupança excedentária de apoximadamente 11% do PIB. Contudo, ainda que em menor escala na Europa, estes excedentes de poupança foram sustentados por uma ampla variedade de políticas "custe o que custar".
Dotados de poupanças confortáveis e tendo conhecido os encantos do teledescanso, muitas vezes disfarçado de teletrabalho, vários trabalhadores mostraram-se reticentes em retomar uma atividade. Nestas condições, os empresários, confrontados com a dificuldade de encontrar mão-de-obra adequada, foram encorajados a conservá-la, especialmente na medida em que a inflação existente lhes permitiu absorver os custos acrescidos através de aumentos de preços que compensaram o início de abrandamento da atividade.
Perante estas pressões inflacionistas causadas pela implementação de uma generosidade fiscal sem precedentes, os Bancos Centrais parecem estar desprovidos de recursos. O aumento das taxas de juro e a redução da liquidez estão a revelar-se pouco eficazes, fragilizando os bancos e exercendo um impacto difícil de antecipar no mercado cambial.
Quais são as perspetivas dos mercados? A priori, o cocktail de pressões inflacionistas difíceis de controlar, acompanhadas por taxas de juro elevadas, é tóxico para a valorização de todos os ativos. Tal significaria esquecer que os bancos centrais receiam os efeitos devastadores de uma cessação abrupta da atividade na sustentabilidade da dívida, num período em que o limiar de dor das populações ocidentais é muito baixo. Consequentemente, as taxas reais deverão manter-se relativamente baixas, com efeitos favoráveis no investimento e crescimento. Além disso, a baixa de preços das matérias-primas desencadeada pelos fracassos da economia chinesa, a menor pressão sobre as cadeias de produção e a redução da margem de manobra das empresas para aumentarem os preços numa conjuntura menos favorável, deverão promover uma aceleração da queda da inflação durante os próximos meses.
Este cenário de "desinflação imaculada", sem recurso a uma recessão, pode parecer demasiado idílico. Todavia, isto é possível e levaria Vladimir e Estragon a continuarem à espera de Godot...
Votos de um verão tranquilo. Melhores cumprimentos,
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