Edouard Carmignac escreve sobre questões económicas, políticas e sociais actuais em cada trimestre.
Exmo(a). Senhor(a),
Há seis meses, argumentei que o pessimismo prevalecente entre os investidores não era justificado. Embora as áreas de incerteza contivessem - e ainda contenham - oportunidades de investimento subjacentes, a sua acumulação era um incentivo para se ser prudente.
Em que ponto estamos hoje? Apesar de essas incertezas do mercado se manterem, a sombra que lançam tem vindo a atenuar-se nas últimas semanas.
A título de recordação, as principais áreas de preocupação estão centradas em três pilares principais:
O combate dos bancos centrais à inflação. Uma vez que a política monetária restritiva de ambos os lados do Atlântico tem o duplo efeito de contrair liquidez e reduzir a atividade, devemos questionar em que medida é necessária para atenuar as expectativas de inflação. Descartámos - e ainda o fazemos - o risco de uma recessão grave, uma vez que a vontade política de um forte aumento do desemprego é baixa. Além disso, o risco de um abrandamento económico profundo, induzido pela continuação de uma política monetária restritiva, é substancialmente reduzido devido à ameaça de uma crise financeira nos Estados Unidos. Com efeito, o forte aumento das taxas de juro provocou problemas em muitos bancos de média dimensão, reduzindo os seus depósitos e o valor dos seus ativos. É provável que estes bancos, que por si sós geram quase 50% de todos os empréstimos, venham a restringir severamente a sua atividade. A deterioração das condições financeiras consequente torna problemático para a FED aumentar ainda mais as taxas de juro. O combate à inflação passa, por conseguinte, para segundo plano.
Quais são as consequências para a gestão de ativos? A queda contínua das taxas de juro reais, associada a uma desaceleração económica moderada nos Estados Unidos, favorecerá as ações com boa visibilidade dos resultados e impulsionará o euro a apreciar-se ainda mais em relação ao dólar. O ouro beneficiará de um ambiente de crescimento moderado com uma inflação contínua significativa.
A Europa e os riscos geopolíticos. Muito embora as avaliações dos ativos europeus sejam inequivocamente auxiliadas por um abrandamento no ritmo do aperto da política monetária dos EUA, o cerne da questão poderá residir noutro aspeto. Se for bem-sucedida, a ofensiva ucraniana que esperamos nas próximas semanas enfraquecerá ainda mais o mandato de V. Putin, tornando assim possível uma revolução palaciana. O resultado poderia ser uma resolução duradoura da crise energética europeia e um forte corte na pressão inflacionista europeia.
O despertar da economia chinesa. Contrariamente às nossas expectativas iniciais, o abandono da China da sua política de Covid zero não se traduziu num relançamento da atividade económica equivalente à privação do consumidor chinês que perdurou nos últimos dois anos. As ações chinesas poderiam, no entanto, desfrutar de um ressurgimento de interesse se uma mudança de liderança na Rússia encorajasse Xi Jinping a prosseguir uma política menos autárquica e de maior liberalização da economia chinesa.
Deste modo, as incertezas que afetam as perspetivas de investimento desde outubro passado continuam a dissipar-se. Podemos até vir a observar alguns desenvolvimentos favoráveis inesperados.
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