Uma pouca relação que não é habitual

Carmignac’s Note

Publicado
16 julho 2024
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3 minutos de leitura

Como reconciliar as previsões de um claro aumento dos resultados líquidos das empresas com as de uma economia em crescimento moderado e em desinflação nos Estados Unidos?

Fonte: Carmignac, Bloomberg, Julho de 2024.

O gráfico anterior ilustra, nos Estados Unidos, a pouca relação, que não é habitual, entre as perspetivas do consenso para o crescimento dos resultados líquidos das grandes capitalizações e o crescimento económico. Prevê-se um crescimento dos resultados líquidos de +10% para este ano e o próximo, enquanto se espera um crescimento nominal (incluindo a inflação) da economia de entre +4% e +5%1.

A médio prazo, o crescimento dos resultados das empresas tende a convergir com o crescimento nominal de uma economia. São vários os fatores que o explicam: as empresas fazem parte integrante da economia, pelo que o seu desempenho está estreitamente relacionado com a atividade económica2; o aumento da produtividade contribui tanto para o crescimento económico global como para a melhoria dos resultados das empresas; por fim, os resultados nominais das empresas integram também os efeitos que a inflação tem nos preços de venda e nos custos. Portanto, uma diferença de 5 a 10 pontos percentuais entre ambos no espaço de um a dois anos constitui uma anomalia. Neste caso, como reconciliar a previsão de um claro aumento dos resultados líquidos das empresas com a de uma economia em crescimento moderado3 e em desinflação, contribuindo para um fraco crescimento nominal?

O forte crescimento dos resultados esperados das empresas assenta sobretudo – mas não somente – nos setores tecnológicos em voga, nomeadamente o da inteligência artificial. Pode-se pensar que, até certo ponto, o crescimento exponencial dos lucros dos agentes do setor está a esmorecer (no sentido lato, o setor representa metade do aumento dos resultados líquidos do conjunto do índice S&P 500). As perspetivas de resultados líquidos globais, então assentes apenas em setores mais dependentes do ciclo económico, poderiam dececionar e contribuir para a convergência em baixa dos lucros e do crescimento económico.

Este contexto convida a privilegiar os títulos que trazem grande visibilidade e a reduzir os investimentos nos títulos mais procurados, e portanto mais sujeitos ao risco de deceção, em benefício de capitalizações e segmentos defensivos. Seja como for, o aumento dos mercados extremamente concentrados numa quantidade muito restrita de títulos deverá conduzir-nos a uma diversificação a favor de títulos e setores com pouco destaque atualmente.

Também se pode prever a reconvergência dos resultados líquidos e da economia mediante uma recuperação do crescimento em alta. Afinal, esta já começou a surpreender pela sua resiliência e capacidade de transformar uma recessão antecipada por muitos numa suave aterragem. Portanto, por que não haveria de continuar a surpreender-nos com o seu vigor futuro? A eleição cada vez mais verosímil de Trump para a presidência norte-americana deverá dar lugar a uma política de crescimento pela oferta, tal como Reagan fizera no início da década de 1980. Esta política materializava-se em diminuições de impostos para as empresas, desregulamentação e investimento industrial. Portanto, seria rapidamente acompanhada por um aumento da inflação que concorria também com um aumento do crescimento nominal.

Esta hipótese tem os seus méritos. A sua validação implicaria um prolongamento do ciclo de crescimento, favorável aos setores bolsistas correlacionados, mais capazes do que outros de assumir taxas de juro mais altas devido a uma inflação mais elevada.

Tal como para a hipótese de deceção relativa ao crescimento futuro dos resultados líquidos, convém estar particularmente vigilantes no que se refere aos níveis de valorização para construir uma carteira adaptada ao contexto que se está a formar e aos riscos que este acarreta.

1Estima-se que o PIB real norte-americano atinja +2% este ano, e a inflação 2,5%, isto é, um crescimento nominal de +5%; e para 2025, o crescimento real estimado é de +1,8% e a inflação estimada de 2,1%, ou seja, um crescimento nominal de 3,9%. Quanto aos BPA do S&P 500, prevê-se uma alta de mais de 10% este ano e de mais de 15% em 2025. 2Nos Estados Unidos, mais de 70% da economia está associada a fatores domésticos. 3Com o consumo das famílias em +1,7% no primeiro semestre, contra a tendência de +2,4% pré-Covid, os indicadores coincidentes «colocam» o crescimento norte-americano em +1,7% para o segundo trimestre, com menos empregos criados.

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