Passámos da turbulência de agosto para um conto de fadas?

Carmignac’s Note

Publicado
16 de setembro de 2024

O verão tem sido pródigo e esperançoso: com ele, chegou o fim do carry trade do iene, o reconhecimento do abrandamento nos Estados Unidos e a confirmação de que a Fed vai apoiar a economia sem reservas.

Foi um verão turbulento para os mercados de ações. Alguns números do crescimento económico mais fraco do que o esperado nos EUA alertaram os investidores para a possibilidade de uma sobrevalorização das ações norte-americanas, o que foi rapidamente confirmado pela publicação dos resultados das empresas no segundo trimestre, acompanhados por uma ligeira redução das previsões para o crescimento dos lucros no segundo semestre. Os comentários cautelosos dos principais intervenientes da área da inteligência artificial suscitaram nos mercados o receio de que estas empresas pudessem ter registado uma subida demasiado alta ou demasiado depressa na bolsa. A retirada de Joe Biden aumentou a incerteza quanto ao resultado das eleições presidenciais, reduzindo assim a probabilidade de uma política económica pró-crescimento e do lado da oferta. Na frente internacional, as tensões geopolíticas no Médio Oriente voltaram a aumentar, enquanto a China continuou a desesperar os investidores com a sua aparente inação persistente face ao abrandamento da sua economia. Por último, o Banco do Japão confirmou a sua intenção de implementar uma política monetária menos acomodatícia.

A subida das taxas de juro japonesas desempenhou um papel fundamental na correção do mercado acionista, uma vez que a fraqueza estrutural do iene durante mais de dez anos, impulsionada por taxas de juro invariavelmente negativas, levou a que um número crescente de investidores contraísse empréstimos em ienes para investir em moedas ou outros ativos com rendimentos previsivelmente mais altos (carry trade). O Banco do Japão parece ter posto fim a este carry trade, que, durante anos, foi uma fonte de liquidez para os mercados financeiros. A valorização do iene, que, em poucos dias, rondou os 10%, obrigou a uma aceleração do desmantelamento das posições. As correções mais visíveis afetaram moedas como o peso mexicano, um dos principais beneficiários do carry trade, e os mercados de ações, que caíram em geral 10-15%. O índice bancário japonês perdeu 17% num único dia, embora não tenha havido um contágio significativo nos mercados em baixa. Os mercados de rendimento fixo mantiveram-se calmos. No entanto, curiosamente, o índice de volatilidade do mercado acionista dos EUA registou o terceiro maior aumento desde 2008 (quando o Lehman Brothers entrou em colapso) e 2020 (em plena angústia da pandemia). Não esqueçamos, portanto, este episódio de volatilidade, ainda que possa ter passado despercebido aos veraneantes mais desligados, que também foram atraídos pela rápida recuperação dos mercados antes de meados de agosto.

A lição mais importante a retirar deste verão é a queda simultânea das taxas de juro nos EUA, da inflação, do dólar e do petróleo, num sinal claro de que os mercados estão a antecipar um abrandamento económico, pelo menos do outro lado do Atlântico.

A Reserva Federal dos EUA tomou nota, pré-anunciando para setembro o primeiro corte de taxas desde março de 2020, ao mesmo tempo que expressava a convicção de que a inflação nos EUA está agora sob controlo e que o banco central deveria, por conseguinte, concentrar-se no objetivo de manter o pleno emprego. A posição favorável da Fed face à perspetiva de um abrandamento económico é condicionada pela demagogia eleitoral que irá gerar o estímulo orçamental; a descida das taxas de juro de longo prazo pressionada pela queda das taxas de curto prazo; a fraqueza do dólar, devido a uma flexibilização monetária mais rápida do que noutros mercados; e os preços do petróleo, pressionados pela persistência do abrandamento da economia chinesa e pela vontade da OPEP de afrouxar o controlo da produção, formando assim um cocktail que pode ser muito favorável para os mercados financeiros. Estes fatores são, de facto, a materialização de um cenário económico de "conto de fadas" (Goldilocks), que se reflete no desempenho muito positivo dos ativos financeiros. A coexistência destes fatores poderá também revitalizar o crescimento mundial (queda do dólar, das taxas de juro e dos preços do petróleo) face ao abrandamento iminente dos EUA.

A situação muito saudável do endividamento das famílias e das empresas deverá evitar que o abrandamento económico seja acompanhado de uma crise financeira que poderia transformar-se numa recessão, embora não nos poupe a novos surtos de volatilidade. O cenário muito favorável que estamos a descrever, graças à persistência da desinflação, está, no entanto, condicionado à capacidade da economia americana de sustentar o consumo da classe média, que já mostra sinais de fraqueza.

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